quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

A MORADA DOS LIVROS

Biblioteca Sérvulo Gonçalves - Lorena/SP
Foto PSV - fev 2019


Há alguns anos, fui visitar a Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro. Fazia tempo que admirava o prédio imponente, vizinho do Teatro Municipal e da Câmara Municipal, a emoldurar a praça da Cinelândia. Logo ao lado, o Museu Nacional de Belas Artes.
Lembro que fiquei encantado. Parecia estar num templo, e de certo modo assim era. O templo dos livros, infinitos, inumeráveis, e tratados como merece a sua preciosidade.
Qual a imagem que me ficou mais viva na memória, passados anos da visita? A imagem de uma cadeira. Num determinado momento da visita, o guia mostrou uma sala de leitura, onde havia, afinal, apenas cadeiras e mesas. E explicou, mostrando ao canto uma velha cadeira surrada: ali se sentava, várias vezes por semana, o poeta Carlos Drummond de Andrade. Recordo que senti o coração disparar.
       Há poucos dias, resolvi fazer uma visita à Biblioteca Municipal Sérvulo Gonçalves, em Lorena, onde resido. Afinal, fazia anos que não entrava ali. A bibliotecária, Sra. Rosângela Malerba, gentilmente me recebeu, me mostrou a casa toda, explanou por alguns minutos sobre o seu trabalho na instituição. Fiquei com a impressão de que ela põe na tarefa o seu coração.
Depois me sentei, tomei de um livro e li por meia hora. O ambiente é ventilado, bem iluminado, silencioso e, na companhia de 75000 livros se pode passar lá uns bons momentos. Há uma seção infantil e outra de livros em línguas estrangeiras. Os funcionários são atenciosos e não há burocracia. É chegar, sentar e ler. Pode-se levar um livro para casa, se se prefere. De minha parte, sigo o exemplo de Drummond: tenho voltado lá, ocupado sempre a mesma cadeira, a usufruir da atmosfera de templo. 
A biblioteca de Lorena não é a Biblioteca Nacional; a minha cadeira não há de entrar para a História; eu não sou Drummond. Mas também o rio de certa aldeia não era o Tejo e virou poema inesquecível. 


A Biblioteca Municipal de Lorena foi inaugurada em 1876, pelo Dr. Rodrigues de Azevedo, Barão de Santa Eulália, ao mesmo tempo que se inauguravam os lampiões a querosene. Arnolfo de Azevedo declarou, em seu discurso: “Luz para os olhos do espírito em uma biblioteca, luz para os corpos em uma iluminação pública.”




LOĜEJO DE LIBROJ

Antaŭ kelkaj jaroj, mi vizitis la Nacian Bibliotekon, en Rio-de-Ĵanejro. Jam de longa tempo mi admiradis la imponan konstruaĵon, najbaran al la Municipa Teatro kaj al la Municipa Leĝodona Ĉambro, enkadrigantan la placon Cinelândia (elp. sinelandja). Apude staras la Nacia Muzeo de Arto.
Mi memoras, ke mi estis ravita. Ŝajne mi estis en ia templo, kaj iamaniere tiel estis, fakte. Templo de libroj, senfinaj, nekalkuleblaj, kaj zorgataj kiel meritas ilia valoro.
        Kiu sceno restis vivanta en mia memoro, jarojn post tiu vizito? La bildo de seĝo. En iu momento de la vizito, la gvidanto montris ĉambron por legado, kie do troviĝis  nur seĝoj kaj tabloj. Kaj li klarigis, montrante ĉe angulo malnovan seĝon eluzitan: ĉi tie sidiĝis, plurfoje en ĉiu semajno, la poeto Carlos Drummond de Andrade. Mi memoras, ke mia koro batis forte.
Antaŭ kelkaj tagoj, mi decidis viziti la Municipan Bibliotekon Sérvulo Gonçalves, en Lorena, kie mi loĝas. Fine, de jaroj mi ne envenis tien. La bibliotekistino, S-ino Rosângela Malerba, afable min akceptis, montris al mi la tutan domon, parolis dum kelkaj minutoj pri sia laboro en tiu institucio. Mi ricevis la impreson, ke ŝi plenumas sian agadon per la koro.
Poste mi sidiĝis, prenis libron kaj legis dum duonhoro. La loko estas freŝaera, bone prilumata, silenta kaj, en kompanio de 75000 libroj oni povas pasigi tie bonajn momentojn. La oficistoj estas helpemaj kaj ne troviĝas burokratio. Oni alvenas, sidiĝas kaj legas. Oni rajtas porti libron al sia hejmo, se oni tion preferas. Miaflanke, mi sekvas la ekzemplon de Drummond: mi revenas tien, mi okupas ĉiam la saman seĝon, ĝuante etoson de templo. 
                  La biblioteko en Lorena ne estas la Nacia Biblioteko; mia seĝo ne estos parto de la Historio; mi ne estas Drummond. Sed ankaŭ la rivero de certa vilaĝo ne estis Taĵo kaj fariĝis neforgesebla poemo.*

La Municipa Biblioteko en Lorena estis inaŭgurita en la jaro 1876, fare de D-ro Rodrigues de Azevedo (elp. rodriges de azevedo), Barono de Sankta Eulália, kaj samtempe oni inaŭguris kerosenajn lampojn en la koncerna placo. En sia parolado, Arnoldo de Azevedo deklaris: “Lumo por la okuloj de la spirito en biblioteko, lumo por la korpoj per publikaj lampoj.”

*Aludo al fama poemo de la portugalo Fernando Pessoa: “Taĵo estas pli bela ol la rivero, kiu trapasas mian vilaĝon, / sed Taĵo ne estas pli bela ol la rivero, kiu trapasas mian vilaĝon, /ĉar Taĵo ne estas la rivero, kiu trapasas mian vilaĝon”.

10 comentários:

  1. Hoje eu passei um dia muito penoso. Nada como um bom texto literário para tornar a alma mais leve. Obrigada, meu caro Poeta!

    ResponderExcluir
  2. Que texto bacana. É mais que um incentivo à leitura.

    ResponderExcluir
  3. Que legal tio, nunca imaginei que a biblioteca de Lorena pudesse ter esta atmosfera, muito incentivador. Parabéns!

    ResponderExcluir
  4. Ótima crônica, a incentivar novos frequentadores da Biblioteca de Lorena.

    ResponderExcluir
  5. Em tempo, a fachada é feia, horrorosa mesmo, mas que importa se contém o bem mais precioso desse mundo, o conhecimento.

    ResponderExcluir
  6. Bela crônica, Dr. Paulo. Ao lê-la, imediatamente recordei minha infância. Costumava sair da escola, ao meio-dia, e passar na biblioteca municipal da minha cidade (Catanduva) para devolver o livro lido e emprestar outro. Sem aquela biblioteca eu teria deixado de aprender muita coisa.

    ResponderExcluir
  7. Lindo escrito, estimado confrade! Meu coração sufocado saiu em busca de uma cadeira para estar ao seu lado.Abraços.

    ResponderExcluir
  8. Mirinda teksto, Paulo !! Mi estas kiel " rato" de biblioteko ! Amike.Francisca Calegari

    ResponderExcluir
  9. Bedaŭrinde Medicino ŝtelas tempon de nia poeto, kiu kapablas vidi kaj senti tiom da beleco kaj sentemo en tiel simpla etoso.

    ResponderExcluir