Recebi pela internet, pela quinta vez num só dia, uma sequência de românticos crepúsculos acompanhados de sábios conselhos, redigidos em linguagem nobre, tendo ao fundo um esguio noturno de Chopin. Senti um vazio no estômago. Uma espécie de fome muito antiga, um apetite inusitado. Deixei o computador e procurei a estante. Passando os olhos pelas lombadas dos livros, estaquei num volume espesso e esquecido. Abri e dei com o Sermão da Sexagésima, do padre Antonio Vieira.
“Já que se perderam as três partes da vida, já que uma parte da idade a levaram os espinhos, já que outra parte a levaram as pedras, já que outra parte a levaram os caminhos, e tantos caminhos, esta quarta e última parte, este último quartel da vida, por que se perderá também?”
Chuva pesada, fecunda.
Farfalhar de folhas na madrugada.
Enigmático sonho.
Voo de gavião buscando a presa.
Tambores de antigas civilizações.
Passos de dança desconhecida.
Música, pura música intemporal.
Chama subterrânea.
Mistério.
“Como hão de ser as palavras? Como as estrelas.”
VORTOJ KIEL STELOJ
Mi ricevis per interreto, je la kvina fojo en unu sola tago, serion da romantikaj krepuskoj, akompanataj de saĝaj konsiloj, redaktitaj per nobla lingvaĵo, kun fona gracia nokturno de Chopin. Mi eksentis malplenon en la stomako. Iaspecan tre antikvan malsaton, ian nekonatan apetiton. Mi forlasis la komputilon kaj venis al la librobretaro. Mi promenigis la rigardon sur la dorsoj de libroj kaj ekhaltis ĉe volumo dika kaj forgesita. Mi malfermis ĝin kaj ekvidis la Predikon de Antaŭkaresma Dimanĉo, de pastro Antonio Vieira *.
“Kvankam perdiĝis jam tri kvaronoj de la vivo, kvankam jam unu parton el la aĝo forportis dornoj, kvankam alian parton forportis ŝtonoj, kvankam alian parton forportis vojoj, kaj tiom da vojoj, tamen kial perdiĝu ankaŭ ĉi tiu kvara, lasta parto?”
Peza, fekunda pluvo.
Kraketado de folioj en malfrua nokto.
Enigma sonĝo.
Flugado de nizo serĉanta kaptotaĵon.
Tamburoj de antikvaj civilizacioj.
Paŝoj de nekonata danco.
Muziko, pura sentempa muziko.
Subtera flamo.
Mistero.
“Kiaj estu la vortoj? Ili estu kiel steloj.”
*Klasika portugala aŭtoro el la 17-a jarcento.
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ResponderExcluirBelíssimo texto, Poeta! Parabéns!
ResponderExcluirLembrou-me o Eclesiastes 3 O Livro (OL):
"Tudo tem um tempo próprio:
3 Existe um tempo próprio para tudo, e há uma época para cada coisa debaixo do céu:
2 um tempo para nascer e um tempo para morrer; um tempo para plantar e um tempo para colher o que se semeou;
3 um tempo para matar, um tempo para curar as feridas; um tempo para destruir e outro para reconstruir;
4 um tempo para chorar e um tempo para rir; um tempo para se lamentar e outro para dançar de alegria;"
A hora de todos nós agora é só de alegria. "Carpe diem" !
Kia mIstera poemo... Gratulon, poeto.
ResponderExcluirPost tiuj belaj elpensaĵoj, vi rejuniĝis almenaŭ unu vivoparton, amiko Paŭlo! Tre riĉe tajlita tiu poemprozaĵo! Gratulon!
ResponderExcluirTenho orgulho de ser um discípulo e seguidor desse mestre e sábio.
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