A leitura dos noticiários, nas últimas semanas, no Brasil,
assume por vezes uma conotação esquizoide, para dizer o mínimo. Senão, vejamos:
1ª notícia:
O estado do Rio de Janeiro fechou o mês de janeiro de 2018
com mais de 600 tiroteios em lugares públicos, numa dantesca média de mais de
20 por dia. Só na Cidade de Deus (atenção para o nome do bairro) foram algumas
dezenas. Vias interditadas, transeuntes em estado de pânico, várias vítimas de
balas perdidas (inclusive crianças), policiais assassinados em quantidade
assustadora, civis trucidados. Bandidos dispõem de armamento capaz de derrubar
aeronaves. Criou-se um aplicativo na internet, para uso da população: “Onde tem
tiroteio?”. Escolas são fechadas. O ministro da Justiça reconheceu: “O sistema
de segurança do estado está falido.”
Se isso tudo não configura um estado de verdadeira guerra
civil, então o que falta?
2ª notícia:
Uma semana antes do carnaval 2018, no período chamado
“pré-carnaval”, no Rio de Janeiro, centenas de blocos já saem às ruas para “brincar”. Sim, o verbo é exatamente este:
“brincar”. São de tamanhos variados. Alguns, mais tradicionais, chegam a juntar
mais de um milhão de “foliões”. Trata- se de uma “folia”, de uma “festa”. Sob
temperaturas de 40 graus, ao som de marchinhas animadas, as pessoas pulam e
dançam nas ruas, com uma alegria infantil. No meio, caricaturas vivas que
ridicularizam políticos e outras figuras públicas, bem como fatos escabrosos
que não faltam, no país. O número de participantes do chamado carnaval de rua
vem aumentando consideravelmente, nos últimos anos, em vários estados do
Brasil.
Pensa o leitor:
Que país é esse? Multidões “brincando”, enquanto, a poucos
quilômetros dali, uma guerra selvagem se desenrola! Crianças assassinadas! Não
há um grau mínimo de normalidade social! Uma das mais importantes cidades do
Brasil, a um passo da anomia. E todos dizem que o carioca é um povo alegre.
Será isto uma forma de alegria?
Seria o caso de perguntar: estão rindo de quê?
GAJECO, GAJECO!
Legado de ĵurnaloj, dum la lastaj semajnoj, en
Brazilo, alprenas foje ian skizofrenian trajton, por diri la minimumon. Nu, ni
vidu:
1ª informo:
La ŝtato Rio-de-Ĵanejro fermis la monaton januaro 2018 kun pli ol 600 pafadoj en publikaj
lokoj, je danteska mezumo de pli ol po 20 en ĉiu tago. Nur en la
kvartalo “Urbo de Dio” (atentu pri la nomo) okazis kelkaj dekoj da ili.
Blokitaj stratoj, irantaj personoj en stato de paniko, pluraj viktimoj de
sencelaj kugloj (inkluzive de infanoj), policistoj murditaj je timiga kvanto,
masakritaj civitanoj. Banditoj disponas pri armiloj kapablaj faligi flugmaŝinojn. Oni kreis interretan servon kun la titolo: “Kie estas pafadoj?”.
Lernejoj fermitaj. La ministro pri Justeco rekonis: “La sistemo de sekureco
bankrotis.”
Se ĉio tio ne montras
staton de vera civila milito, do kio mankas?
2ª informo:
Unu semajnon antaŭ la karnavalo 2018, en la periodo nomata “antaŭ-karnavalo”, en
Rio-de-Ĵanejro, centoj da grupoj jam iras surtraten por “ludi”. Jes, tiu estas
la verbo, precize: “ludi”. Ili varias laŭ grandeco. Kelkaj, pli tradiciaj,
kunigas eĉ pli ol unu milionon da “diboĉantoj”. Temas pri “diboĉado”, pri
“festo”. Sub temperaturo de 40 gradoj celciusaj, je la sonado de entuziasmaj
kantoj, homoj saltadas kaj dancadas surstrate, kun infaneca gajo. Inter ili,
vivantaj karikaturaĵoj, kiuj ridindigas politikistojn kaj aliajn publikajn
figurojn, same kiel skandalajn faktojn, kiuj abundas, en la lando. La kvanto da
partoprenantoj en la tiel nomata strata karnavalo konsiderinde kreskadas, dum
la lastaj jaroj, en pluraj brazilaj ŝtatoj.
La leganto pensas:
Kia lando estas ĉi tiu lando? Homamasegoj “ludas”, dum sovaĝa milito okazas,
je kelkaj kilometroj for de tie! Murditaj infanoj! Ne ekzistas minimuma grado
de normaleco en la socio! Unu el la plej gravaj urboj en Brazilo troviĝas je
distanco de unu paŝo de socia ĥaoso. Kaj ĉiuj diras, ke Rio-anoj estas gaja
popolo. Ĉu tio estas formo de gajeco?
Oni povus demandi: kial ili ridas?
Muito bem observado! Verdadeira esquizofrenia. No entanto, penso nisso como um mecanismo de defesa, em que uma cisão permite separar uma coisa da outra, facilitando uma relativa saúde mental. Mais uma ótima crônica, Paulo.
ResponderExcluirVere plorinda situacio...
ResponderExcluirPaís de contrastes - e alguns trastes. Paulo retrata fielmente o momento, paradoxal.
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