domingo, 6 de maio de 2018

CANSAÇO DA VIDA

PSV, 05/2018



            Primeiro foi a compaixão pelo sofrimento dos doentes terminais. Antecipe-se-lhes a morte, suposto repouso eterno.
            Seguiu-se o turismo da morte, com excursões de ricaços aos paraísos que lhe garantem suicídio assistido, com o qual obterão o alívio de suas dores e o suposto repouso eterno.
            Depois, veio o suicídio oferecido aos doentes mentais que, mesmo não portadores de doença terminal,  já não suportam o próprio sofrimento e são presenteados com o suposto repouso eterno.
            Agora, por que não oferecer a doce morte supostamente libertadora aos entediados, que, igualmente poupados de alguma doença terminal, alegam que estão “cansados de viver”?
            O suicídio assistido se espalha pelo mundo. As legislações a respeito estabelecem que os fornecedores desse estranho serviço não podem auferir lucro por ele. Entidades que o praticam, no entanto, têm sua contabilidade. Estamos a um passo de o transformar em mais um simples negócio.

            Não se pode negar: há no mundo sofrimentos atrozes, diante dos quais nos angustiamos profundamente. É preciso desenvolver com urgência a “Medicina do Cuidado Paliativo”, em nome da compaixão e da solidariedade. Com todo o respeito a quem sofre e deseja ardentemente pôr fim à agonia, antecipar a morte não me parece função da medicina.


LACA PRI LA VIVO

            Unue, la kompato pri la suferego de nekuraceblaj malsanuloj. Oni anticipu ilian morton, supozatan eternan ripozon.
            Sekvis la turismo de morto, kun ekskursoj de riĉuloj al paradizoj, kiuj garantias al ili asistatan memmortigon, per kiu ili havigos al si forigon de doloroj kaj la supozatan eternan ripozon.
            Poste, alvenis la memmortigo proponata al mensmalsanuloj, kiuj, eĉ se ili ne havas malsanon baldaŭ mortigontan, jam ne eltenas sian suferadon kaj ricevas la donacon de supozata eterna ripozo.
            Nun, kial ne proponi dolĉan morton supozeble liberigan, al enuantoj, kiuj, same ne havantaj baldaŭ mortigontan malsanon, argumentas, ke ili estas “lacaj pri la vivo”?
            La asistata memmortigo disvastiĝas tra la mondo.  Leĝoj pri tio starigas, ke proponantoj de tiu stranga servo ne rajtas gajni monon per ĝi. Institucioj ĝin praktikantaj tamen havas siajn kontojn.  Ni staras unu paŝon for de transformado de tio en unu plian simplan negocon.

            Ne eblas nei: troviĝas en la mondo teruraj suferoj, fronte al kiuj ni profunde angoras.  Urĝe necesas progresigi Paliativan Medicinon, nome de kompatemo kaj solidareco. Kun plena respekto al suferantoj, kiuj arde deziras fini sian agonion, tamen anticipi la morton ne ŝajnas al mi funkcio de medicino.

3 comentários:

  1. "Urĝe necesas progresigi Paliativan Medicinon, nome de kompatemo kaj solidareco." Vi pravas! Oni ne forgesu la Hipokratan ĵuron!

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  2. Muito bom o texto,como conversamos ontem, para os médicos que o fazem, como ficam perante o juramento de Hipócrates? Assustador a banalização da vida!

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  3. Melhor não julgar. Diante do sofrimento atroz, aquele que sofre é que sabe de sua dor. Não há no juramento de Hipócrates nada que indique a perpetuação da vida, custe o que custar. Isso sim, é comercialização da medicina - as UTIs ganhando dinheiro à custa do sofrimento alheio. Assunto difícil. Ótimo texto, pra pensar.

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